segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

OS CONJURADOS - RESTAURAÇÃO DE 1640

 


“Se há nação no mundo para a qual o mesmo mundo seja pátria, somos nós”

[Padre António Vieira, Sermão de Nossa Senhora da Conceição]

" ... Portugal se achava quebrantado, & consumido com a perda do Rei Dom Sebastião, morte, & cativeiro da melhor, & maior parte da nobreza, & de muito povo, & com peste, que logo se seguiu; não pôde resistir, & logrou-se melhor a violência. D. Philippe não só com o aparato de guerra, mas com promessas, & dádivas rendeu muitos ânimos, & corrompendo tudo, oprimiu o verdadeiro direito..."

[António Pais Viegas, Manifesto do Reyno de Portugal, 1641]

 

[Conversa entre D. João com o seu secretário, António Pais Viegas]:

-  [António Pais Viegas] “em caso que o reino se resolvesse a fazer uma república, seguiria sua majestade as partes dela ou as de Castela?” 

- [D. João] “em qualquer acontecimento se havia de acostar sempre ao que o comum do reino seguisse”

[in Restauração de Portugal Prodigiosa, 1753]


J.M.M.

sábado, 22 de novembro de 2025

O CONSTITUCIONAL JUSTIFICADO, OFFERECIDO, E DEDICADO AS CONSCIENCIAS DOS ANTI-CONSTITUCIONAES POR ***

 


LIVRO: O Constitucional Justificado, Offerecido, e Dedicado as Consciencias dosAnti-Constitucionaes;
AUTOR: *** (Anónimo);
EDIÇÃO: Typographia Rollandiana, 1820, 51 pp.

Trata-se de um interessantíssimo opúsculo, muito raro e valioso, publicado anónimo em 1820, contra os "satellites do despotismo" e onde se defende a convocação das "Cortes Extraordinarias, para formarem huma Constituiçaõ analoga ás luzes do século, aos nossos costumes, á nossa prosperidade, e propria para crear hum espirito verdadeiramente Nacional”. 

Peça invulgar e muito curiosa, é de grande interesse para a Revolução de 24 de Agosto de 1820 e a Constituição de 1822 e foi decerto distribuída como propaganda no lançamento da “sabia Constituiçaõ” que “sustentará o justo equilíbrio da sociedade” de modo que – como é referido - a “Concordia termine em socego a Grande Obra, que o Heroismo emprehendeo com enthusiasmo” e que “sejamos surdos ás pérfidas sugestões da Cabála: faça cada hum o seu dever, e seremos felizes”.

Esta espécie bibliográfica muito rara e de grande estimação foi gentilmente digitalizada e disponibilizado ao (selecto) público estudioso das ideias liberais, da Revolução de 1820 e do Constitucionalismo nascente, pela Biblioteca Maçónica do Baixo Mondego (BMBM) que assim cumpre o seu dever: recolha e livre disponibilização de peças bibliográficas […] merecedoras de atenção do amante do livre-pensamento.  

Gratidão!

J.M.M.

domingo, 5 de outubro de 2025

VIVA O 5 DE OUTUBRO! VIVA A REPÚBLICA!

 


Faça-se a República!” [Afonso Costa]

O nosso ideal não é construir um mundo – é apenas construir uma casa – a nossa casa – segundo o plano que nos legaram os arquitectos de 89” [João Chagas]

"A República, nesta hora, vive pela recordação dos seus grandes mortos. Ergamos religiosamente a sua memória e juremos sobre os seus túmulos sustentar através de todas as vicissitudes a obra que eles souberam construir, á custa de tantos sacrifícios, iluminados pelo mais puro ideal" [in "O MUNDO", 3 de Outubro de 1926]

VIVA O 5 DE OUTUBRO! VIVA A REPÚBLICA!
SAÚDE E FRATERNIDADE!

J.M.M.
A.A.B.M.

terça-feira, 23 de setembro de 2025

O OUTRO AFONSO DUARTE – POR ANTÓNIO VALDEMAR

 

O Outro Afonso Duarte – por António Valdemar, in O Figueirense

A descoberta, no contacto direto com as populações, do modo de ser e de estar do povo português através de exemplos recolhidos no tesouro poético das quadras populares e na sabedoria dos adágios e provérbios.

Entre os grandes poetas do seculo XX, Afonso Duarte ocupa um lugar de relevo na História da Literatura Portuguesa e nas principais antologias da poesia portuguesa. Celebrou a energia cósmica da natureza, a exaltação panteísta da vida, o apego as raízes telúricas e humanas e, simultaneamente, os grandes valores universais que fundamentam a liberdade e a democracia.

Afonso Duarte (1884–1958) nasceu na Ereira, concelho de Montemor-o-Velho, no território tão característico do Baixo Mondego, onde nasceram outros poetas, escritores, artistas plásticos, mestres universitários e outras personalidades de projeção cultural, política e social. Todavia, a quase totalidade da vida pessoal, profissional e literária de Afonso Duarte decorreu em Coimbra em cuja Universidade se licenciou (Ciências Físico Naturais) e onde também exerceu o magistério secundário, sendo erradicado do exercício de funções, por motivos políticos, nas primeiras purgas efetuadas pelo governo de Salazar.

A conjugação do real e o imaginário manifesta-se com forte poder metafórico logo nos primeiros livros: Cancioneiro das Pedras [1912]; Tragédia do Sol Posto [1914]; Rapsódia do Sol-Nado e Ritual do Amor [1916] que serão revistos e selecionados, em 1929, num único volume Os 7 Poemas Líricos. Esta fase reflete uma proximidade com a poesia de Teixeira de Pascoaes e da doutrinação literária e estética difundida na revista A Águia e no movimento Renascença Portuguesa.

Um novo ciclo poético se vai evidenciar partir dos anos 30, documentado em livros de referência como Ossadas (1947); Post-Scriptum de um Combatente (1949); Sibila (1950); Canto da Babilónia (1952); Canto de Morte e Amor (1952); Lápides e Outros Poemas (1956-1957), reunidos, em 1956, na primeira edição da Obra Poética. Corresponde ao período em que Afonso Duarte se insere no ideário da Seara Nova, acompanha o movimento da Presença e, mais tarde, o movimento dos neorrealistas reunidos. Embora não tenha livros publicados no âmbito do Novo Cancioneiro, é um colaborador da revista Vértice. Carlos de Oliveira, Mário Braga e Joaquim Namorado, assinalam-se entre os seus amigos que frequentavam as tertúlias instaladas em cafés históricos de Coimbra.

Desde Cancioneiro das Pedras – editado em 1912 –, Afonso Duarte evidenciou uma relação possessiva com a terra natal e em todas as estações do ano: «As cheias vindas às casas! / Tudo afoga em dilúvio, ervilhal e giesta, /o próprio lar, as brasas! /o vento assopra ao desamparo, o vento grita, / como um louco varrido! /A Aldeia é um gemido». (…) «Asa do vento, como vens distante? /E o vento avança, o vento diz: mais longe!». É uma permanente reivindicação das suas origens: «canto o amor de meus campos e baldios/ meu casal que é uma ilha aos quatro ventos». A Ereira, desde então, passou a ser incluída na literatura portuguesa».

Mas além da obra poética, Afonso Duarte realizou, nos anos 20 e 30 do século passado, um trabalho pedagógico que mudou a orientação preconizada no ensino do desenho, rompendo com os métodos existentes, quer na instrução primária, quer nos estudos secundários. Encontra-se, pormenorizada em três ensaios: O Desenho na Escola, Barros de Coimbra (Lúmen, 1925); Carta Metodológica "do desenho decorativo"; e Os desenhos animistas de uma criança de 7 anos (Imprensa da Universidade de Coimbra, 1933). Ficou a ser um dos precursores da «educação pela arte», que seria desenvolvida, a partir dos anos 50 por Calvet de Magalhães (1913-1975), como professor e diretor da Escola Francisco Arruda, em Lisboa, e nas campanhas que, periodicamente, desencadeou no Diário de Lisboa.

Há ainda outra componente muito significativa na criação intelectual de Afonso Duarte: a investigação etnográfica publicada, através da Seara Nova, em duas obras que obtiveram, na altura, o interesse da crítica: O Ciclo do Natal na Literatura Oral Portuguesa (1936) e Um Esquema do Cancioneiro Popular Português (1948).

No texto introdutório desta segunda obra referiu que: «a propósito de tudo, a gente do povo sabe uma quadra; uma sabedoria milenar que passou a herança poética (…) «impregnada de “nuances” afetivas próprias das nossas atitudes mentais», após o que justificou o sentido e oportunidade desta antologia: um «breviário de conceitos morais, formando corpo de doutrina sobre a honra, firmeza, fidelidade, prudência, diligência e persistência, confiança e franqueza, amor da família, e uma filosofia da experiência que é toda perdão, desculpa e paciência perante as fraquezas da vida».

Nestas duas obras de Afonso Duarte – que merecem ser reeditadas e lanço o apelo à Câmara Municipal de Montemor-o-Velho –, perdura o vínculo profundo que o ligava à Ereira e às singularidades dos Campos do Mondego, tão visível na sua poesia: «Sem esta terra funda e fundo rio/ que ergue as asas e sobe em claro voo; / sem estes ermos montes e arvoredos / eu não era o que sou».

Não se pode classificar uma investigação saudosista, à semelhança de muitas outras manifestações promovidas pelo salazarismo, tais como «Monsanto, a aldeia mais portuguesa de Portugal». Afonso Duarte repudiava todas essas incursões no passado. Basta recordar estes versos de forte contundência epigramática incluídos em Ossadas: «O antigo é a doença que eu mais detesto/ É viciar o que já foi virtude! O tornar ao Passado é sempre um resto».

Mas ao proceder à sistematização da poesia popular, Afonso Duarte teve por objetivo recolher quadras, trovas, adágios e provérbios que definem o comportamento do povo português através dos séculos: a humanização da natureza, os sentimentos afetivos, as virtudes e vícios, o riso e as lágrimas, a ironia e o sarcasmo que se aplicam às mais diferentes circunstâncias. Quantas «carapuças» existiam no tesouro do Cancioneiro popular que se poderiam aplicar ao regime político e ao próprio Salazar? A obra poética de Afonso Duarte e as outras criações em que se empenhou colocam-nos perante um notável poeta que associou sempre a literatura e a cultura à militância cívica.

O Outro Afonso Duarte” – por António Valdemar [Jornalista, carteira profissional número Um; sócio efetivo da Academia das Ciências], in O Figueirense, 27 de Agosto de 2025, p.21 – com sublinhados nossos.

J.M.M.

segunda-feira, 22 de setembro de 2025

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL: DESAFIOS E RESPONSABILIDADES – POR ANTÓNIO VALDEMAR

 


“Inteligência artificial: desafios e responsabilidades” – por António Valdemar

A inventariação crítica sistematizada por Arnaldo Niskier para o conhecimento, a avaliação e a extensão de um fenômeno que suscita euforias e apreensões, até conseguir um equilíbrio dinâmico que resista ao imobilismo purista e à rendição acrítica.

O último livro de Arnaldo Niskier sobre Inteligência Artificial é hoje um manancial de informações muito úteis e de reflexões muito oportunas incluídas no decurso de cem comentários pontuais publicados, desde 2023 até abril de 2025, em órgãos de comunicação com a amplitude e o estatuto d’O Globo, Folha de São Paulo e do Correio Brasiliense.

O poder de comunicação de Arnaldo Niskier – confirmado em mais de cem obras que se repartem através dos setores da educação, do ensino e da investigação histórica – permite-nos o conhecimento, a avaliação e a extensão galopante de uma das conquistas irrecusáveis do mundo do nosso tempo. Mas não deixa também de enumerar as advertências perante os riscos associados à Inteligência Artificial, tais como a apropriação indevida e indiscriminada da propriedade intelectual, a propagação de fake news, a ausência de respeito pelos valores humanos tais como a segurança, a equidade, a transparência e a privacidade. Os receios, as dúvidas e as objeções que a propagação da Inteligência Artificial tem levantado, foram expressos por cientistas eminentes reconhecidos com o Prémio Nobel: John Hopfield e Ginton Hinton “Se não houver controlo” – disse Hopfield – “pode ocorrer uma catástrofe”, pois os desafios não se podem resumir a questões de ordem técnica, mas de natureza antropológica, social e política. Requerem formação ética e um compromisso de responsabilidade.

Também o Papa Francisco, nos debates desencadeados em junho de 2024, na reunião da cúpula do G7, que decorreu na Apúlia, manifestou objeções perante a eventualidade do homem se converter num processo para programar computadores. “O homem – acentuou o Pontífice – não se pode transformar num algoritmo. O homem deverá ser o sujeito e não o objeto desta revolução. O resultado positivo” – concluiu O Papa Francisco – “só será possível se formos capazes de agir de maneira responsável e de respeitar valores humanos fundamentais”.


Humanismo e civilização tecnológica

Estamos a viver um novo ciclo na história do mundo, cuja população ascendeu a oito biliões de habitantes e, segundo as estatísticas mais recentes, há 300 milhões que sofrem de forte depressão, de angústia inquietante, de crises emocionais inevitáveis. É impossível ficar indiferente às mudanças que vão surgindo, umas vezes com evidentes benefícios, outras repletas de contrariedades e incongruências.

Há, sem dúvida, metas a atingir não apenas na área das ciências, da medicina, da educação e do ensino, da literatura, das artes visuais, da economia, da justiça, das relações internacionais. Os grandes industriais e empresários do mundo mostram-se receptivos aos desafios que se multiplicam nos mais diversos domínios. Contudo, a requalificação profissional, os reajustamentos legislativos, o combate à fome e às desigualdades sociais e humanas destacam-se entre as prioridades.

Yuval Noah Harari escritor e ensaísta com os maiores êxitos editoriais das últimas décadas, refletiu todos estes aspetos, denunciando arrivismos descarados e manipulações revoltantes, no recente livro “Nexus – Uma breve história das redes da informação, da Idade da Pedra à Inteligência Artificial”. Todavia, Isaac Asimov (1920-1992) – um dos mestres da ficção científica, e divulgação científica, foi mais frontal e conciso ao pronunciar-se acerca de matérias polémicas de inovação: “Se o conhecimento pode criar problemas, não é por meio da ignorância que podemos solucioná-los”. Instituições de renome cultural e cívico como a Academia Brasileira de Letras e a Academia das Ciências de Lisboa, estão a acompanhar a utilização imparável da Inteligência Artificial. Nesta conformidade, a Academia Brasileira de Letras decidiu confiar a Arnaldo Niskier a presidência da Comissão de Lexicologia e Lexicográfica. Duas vezes presidente da Academia e com um currículo a vários títulos notável, Arnaldo Niskier já introduzira, em 1986, um banco de dados extensivo em todos os sectores da Academia.

Recorde-se, entretanto, que Arnaldo Niskier logo no discurso de posse, em 1984, declarou peremptoriamente: “Sempre houve uma componente técnica na natureza humana, da mesma forma que sempre coexistiram o instrumento e a linguagem. Se fosse necessário estabelecer uma ordem de precedência, diríamos que o humanismo, no que ele representa de espírito perquiridor, de busca do ideal da realização humana, precede a técnica, pois a ferramenta procede da palavra, do pensamento, da criação. O que se busca” – ponderou ainda Arnaldo Niskier – “é uma nova síntese que supere os antagonismos entre humanismo e civilização tecnológica. Nem o humanismo é um fim em si mesmo, contemplativo e estático, nem a civilização tecnológica deve subjugar o homem com suas ofertas desmedidas e, às vezes, desnecessárias”.

Cooperação entre as duas Academias

Idênticas funções estão a ser exercidas na Academia das Ciências por Ana Salgado, lexicógrafa e investigadora nas áreas das Ciências da Linguagem e das Humanidades Digitais. Líder do projeto de revisão da norma ISO 1951: 2007; colaboradora do grupo DARIAH-EU Working Group Lexical Resources. Colíder do WG1 da CA22126 – European Network On Lexical Innovation (ENEOLI).

O percurso de Ana Salgado, começou no departamento de Dicionários da Porto Editora, onde liderou vários trabalhos de referência. Atualmente, coordena os projetos lexicográficos da Academia das Ciências de Lisboa, onde, desde 2023, é presidente do Instituto de Lexicologia e Lexicografia da Língua Portuguesa (ILLP). É ainda uma das editoras incumbidas da publicação do Thesaurus de Ciências da Terra, coordenado por Manuel Lemos de Sousa, catedrático da Universidade do Porto, académico efetivo e membro do Conselho Científico da Academia das Ciências.

A cooperação de ambas as Academias é urgente e é necessária. Tanto mais que a interação do Gemini Live – em vias de se tornar o cérebro dos smartphones. – pode ser feita em dez idiomas, entre os quais a língua portuguesa. As interrogações são pertinentes: em que medida os desenvolvimentos da inteligência artificial são suscetíveis de atingir e desvirtuar a estrutura da língua (portuguesa, francesa, inglesa etc.)? Corre–se o risco de perder o cunho de identidade? Como reagir em face de possíveis alternativas para incorporar as inovações no idioma falado e, sobretudo, no idioma escrito?

O excesso de zelo dos puristas

A defesa e valorização da língua portuguesa não podem resvalar no excesso de zelo dos puristas horrorizados com a introdução crescente dos francesismos e anglicismos. Um dos exemplos tristemente célebres é o livro “Rol de Estrangeirismos”, da autoria do professor Francisco Júlio Martins Sequeira, publicado no auge do salazarismo. Tinha por finalidade ser uma “obra de consulta fácil e de fácil manuseio, uma como cartilha para servir a quantos, desejosos de falar ou escrever em português de lei, procurem um guia adequado e de intentos seguros. Era ainda mais categórico. Destinava-se a “escorraçar, por sadio nacionalismo e por brio próprio, (...) os termos espúrios, desnecessários, impertinentes, anti-portugueses”.

Entre as inúmeras propostas sugeria: em vez de boxeur, murrista ou socador; de camionete, galera ou autocarroça; de cassetette, porrete ou cacheira; de croissant, meia lua; de derrapagem, escorregamento; de embraiagem, engate ou engranzagem; de hangar, telheiro ou trapiche; de toilette, atavios ou afeitamento; de mayonaise salgalhada ou mistifório. Da lista interminável menciono ainda: em vez de chutar, pontapear; de jazz-band, banda de pretos ou banda esquipática; de smoking, jaqueta; de WC (water closet) privada, sentina ou latrina; de cocktail, cacharolete e de John Bull, João Touro.

Em cada uma destas alternativas estamos confrontados com o ridículo e o absurdo. A inventariação crítica, sistematizada por Arnaldo Niskier no livro sobre “Inteligência Artificial Hoje”, cumpre a função de esclarecer o leitor sobre o rumo a seguir em matéria de língua portuguesa, num tempo marcado pelos avanços e os desafios da Inteligência artificial.

A competência do filólogo

Compete ao filólogo – ensina Antônio Houaiss – a defesa da sua língua natal, o estudo científico das outras línguas; a análise crítica das variantes, a organização de edições críticas para fixar a coisa significada. Prémio Nobel da literatura em 1956, o poeta espanhol Juan Ramon Jimenez (1881-1958), escreveu este poema que aprofunda a genealogia da palavra: “Filologia, dá-me/o nome exato das coisas. / Que a minha palavra seja/a própria coisa/ criada pela minha alma novamente!/ Que por mim cheguem todos/ os que não as conhecem, às coisas. / Que por mim vão todos/ esses que as amam, as coisas. / Filologia, dá-me o nome exato/ e teu e seu e meu das coisas.“

Perante a evolução natural e irrecusável de qualquer língua, em vez de temer a inovação, as Academias e a sociedade devem molda – lá, encontrando um equilíbrio dinâmico que resista ao imobilismo purista e à rendição acrítica. Assim, poderá garantir que a Inteligência Artificial sirva o homem e que a língua portuguesa, em toda a sua diversidade, continue a ser, em cada país, um instrumento de identidade e diálogo plural.

Alexandre O’Neill Precisa-se” – por António Valdemar [Jornalista, carteira profissional número Um; sócio efetivo da Academia das Ciências; sócio correspondente da Academia Brasileira de Letras], in Jornal de Letras, n.º 308, Setembro2025 – com sublinhados nossos.

J.M.M.

terça-feira, 8 de abril de 2025

GRÉMIO LUSITANO – REVISTA, ANO 13, N.º 28, 2024

 


Grémio Lusitano – Ano 13 28, 2º Semestre 2024, p.28; Revista Grémio Lusitano; Propr. Grémio Lusitano; Editor: Grémio Lusitano; Director: Pedro Luiz de Castro; Director-Adjunto: Henrique Monteiro; Coord.: Pedro Luiz de Castro, Álvaro Carrilho, Inês Marques; Grafismo: Álvaro Carrilho; Redacção: Rua do Grémio Lusitano, 25, Lisboa.

A revista do Grémio Lusitano n.º28 [Ano 13 28, 2º Semestre 2024] tem a “Iniciação e Transformação” como tema, isto é, «tem o propósito simples, mas arrojado, de saber o ‘quanto’ e o ‘como’ a Maçonaria transformou os homens e mulheres que acolheu» [Do Editorial]. Dito de outro modo: após o «chamado processo iniciático» a «maçonaria transforma-nos? Modifica-nos? Altera o nosso comportamento, a nossa visão do mundo? Passamos a ser pessoas mais cumpridoras, mais comprometidas com a nossa positiva transformação, e por arrastamento com o melhoramento da própria sociedade onde nos inserimos?» [Do Editorial]. Eis, portanto, um balanço sobre a “Iniciação e Transformação" de modo a que «nunca se diga de nós: Entrou na Maçonaria, mas a Maçonaria nunca entrou nele …!» [Do Editorial].

De salientar as notáveis e estimulantes ilustrações do designer Álvaro Carrilho que acompanham e exploram cada artigo da revista, peças únicas da afirmação de uma interioridade e espiritualidade surpreendente, que ao recorrer “à geração de imagens com IA” filtram o leitor para “uma imersão profunda nas questões éticas, filosóficas, oferecendo uma nova dimensão de leitura”.    

TÁBUA: Iniciação e transformação

Editorial. Nós e a Maçonaria, a Maçonaria e Nós [Pedro Luiz de Castro] / A minha inexorável viagem em direcção ao Oriente [Jaime Pina] / Despido e Despojado [Paulo Mendes Pinto] / Um segredo não partilhável [Henrique Monteiro] / A cultura de grupo [Prometeu n.s.] / Eu estou aqui … porquê [António Maria da Fonseca] / Glorificação do trabalho [Carlos Mardel n.s.] / In Claris, Fiat Interpretatio [José Adelino Maltez] / Involuir para Evoluir [António Ventura] / O caminho da Luz [Henrique n.s.] / Porque sou maçom? [Luís Conceição] / “Tudo vale a pena, quando a alma não é pequena” [Manuel Pinto dos Santos] / Três grandes pancadas [Joaquim Grave dos Santos] / Um outro olhar, ou desejo de «pensar mais» [José Manuel Martins] / Uma outra relação com o mundo [Luís Parreirão] / Viagem [João Alves Dias] / Ser Maçom [Anselmo Bravule n.s.] / O Impulso da Construção [Álvaro Carrilho].

Revista à venda no Grémio Lusitano

J.M.M.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

NO CENTENÁRIO DA UNIVERSIDADE LIVRE DE COIMBRA (1925-2025)

 

NO CENTENÁRIO DA UNIVERSIDADE LIVRE DE COIMBRA (1925-2025)

DIA: 5 de Fevereiro de 2025 (16,30 horas);

LOCAL: Museu Municipal de Coimbra/Galeria Almedina (Arco de Almedina/Rua Ferreira Borges);

ORGANIZAÇÃO: Grupo de Arqueologia e Arte do Centro (GAAC) | Museu Municipal de Coimbra | CMC 

“Na próxima quarta-feira, dia 5 de fevereiro, assinalam-se os 100 anos da fundação da Universidade Livre de Coimbra. Para assinalar a efeméride, o Museu Municipal vai expor na Galeria Almedina do Museu Municipal a exposição “No Centenário da Universidade Livre de Coimbra 1925 – 2025”, organizada pelo GAAC. Pelas 16h30, a cerimónia de inauguração vai contar com a presença do presidente da Câmara Municipal (CM) de Coimbra, José Manuel Silva, do vice-presidente da CM de Coimbra, Francisco Veiga, e do presidente do GAAC, Valdemar Rosas.

A exposição pretende assinalar os oito anos de funcionamento da Universidade Livre de Coimbra (ULC), na Torre de Almedina, de 1925 a 1933. As universidades livres nasceram do ideal civilizador, laico e republicano de promoção social, moral e intelectual das camadas populares. A Universidade Livre, que tinha sede em Coimbra e secções ou delegações em quaisquer localidades, pretendia ser um instituto de educação popular que atuava fora de qualquer escola política ou religiosa e que tinha por função fomentar a cultura e a educação moral e social, promover a aproximação dos trabalhadores manuais e intelectuais e auxiliar a obra de extensão universitária.

Para atingir as suas finalidades, a Universidade Livre propunha-se, de um modo geral, a organizar conferências, cursos, lições, palestras, excursões e viagens de estudo, espetáculos e sessões cinematográficas, festas de caráter educativo, concertos musicais, auxiliar e manter bibliotecas e salas de leitura. Museus de carácter pedagógico, venda e edição de livros, estampas, folhetos e quaisquer outras publicações e colaboração com todas as escolas na realização de uma mais intensa e extensa ação educativa no seio das classes de trabalho manual faziam parte também da sua ação. Os cursos mistos ministrados versaram história, francês, escrituração comercial, botânica, dactilografia, aritmética, num total de 19 especializações.

No Centenário da Universidade Livre de Coimbra 1925 – 2025” pode ser visitada, gratuitamente, de terça a sexta-feira, das 10h00 às 18h00 e, no fim de semana, das 10h00 às 13h00 e das 14h00 às 18h00. A mostra vai estar patente até 23 de março, dando a conhecer documentação, referências e obras produzidas por alguns dos protagonistas e mentores da ULC” [AQUI]

J.M.M.

domingo, 2 de fevereiro de 2025

ALEXANDRE O’NEILL PRECISA-SE – POR ANTÓNIO VALDEMAR

 

Alexandre O’Neill Precisa-se” – por António Valdemar

Estou a vê-lo tal como o próprio Alexandre O’Neill se autoretratou: “moreno, português, cabelo asa de corvo” (…) “sofre de ternura, bebe demais e ri-se…”. Estou também a ouvi-lo num bate papo, sempre inesquecível, através das esquinas, entre o Jardim do Príncipe Real e a Rua do Alecrim. Além da conversa fascinante, desafiava-nos para ir comer uns carapaus fritos, com salada fresca, um tinto do lavrador e a sair do barril. Depois era o café. Muito café. Fumava cigarros, uns atrás dos outros.

Viajou muito. Andou de país em país. Viu museus e palácios. Comeu e bebeu o que lhe apetecia em bons hotéis e bons restaurantes. Mas Lisboa permanecia dentro dele. Era aqui o seu território: passar nas livrarias e alfarrabistas; ir as tascas do Bairro Alto, frequentar antigos restaurantes que já não existem ou se existem tem outra clientela.

O centenário do nascimento de Alexandre O'Neill (1924-1986) – que se vai concluir a 19 de dezembro deste ano – permite recordar o Homem e a obra nas suas varias componentes. Grande poeta, dos maiores da literatura portuguesa da segunda metade do seculo XX, também se distinguiu pela intervenção cívica.

Entre os poetas e escritores da sua geração, Alexandre O'Neill foi, porventura, o que se aproximou do público mais diversificado. Basta citar o poema Gaivota, que transpôs as fronteiras nacionais, interpretado pela voz de Amália e composição musical de Alain Oulman. Para o renome de Alexandre O'Neill também contribuíram as intervenções frequentes na televisão e noutros órgãos de comunicação, tais como no Diário de Lisboa, n'A Capital e n‘A Luta.

A política acompanhou-o sempre. Na oposição ao salazarismo, no combate ao marcelismo e, depois do 25 de Abril, na rejeição dos totalitarismos partidários. Era um defensor acérrimo do pluralismo de expressão e critica. Manteve, e em circunstâncias bastante difíceis, a frontalidade da opinião. Orientava-se por exigências éticas princípios democráticos, contra a imposição de compêndios estéticos e cartilhas literárias. Insurgiu-se contra tudo que lhe condicionava a liberdade pessoal.

Poucos escritores e poetas denunciaram, como Alexandre O'Neill, os ridículos, as frivolidades, o absurdo, a farsa da sociedade portuguesa. Tal como Gervásio Lobato na célebre “Lisboa em Camisa”. O inconformismo visceral de O'Neill destaca-se quer no volume “Poesia Completa”, introdução de Clara Rocha; quer nos textos dispersos em jornais recolhidos por Maria Antónia de Oliveira, com o titulo “Portugal em forma de Assim”.

Mostrou-se implacável perante “o Pais engravatado todo o ano/ a assoar-se na gravata por engano, /o incrível pais da minha tia, / trémulo de bondade e de aletria”. Ou quando se debatia com lisboetas que o indignavam: “Tu não mereces esta cidade/não mereces/ esta roda de náusea em que giramos/ até a idiotia/ esta pequena morte/ e o seu minucioso e porco ritual/ esta nossa razão absurda de ser”. (…) “Tu és da cidade onde vives por um fio/de puro acaso/ onde morres ou vives não de asfixia/ mas às mãos de uma aventura de um comércio puro/sem a moeda falsa do bem e do mal”.

Não poupava, Alexandre O'Neill, a insinuação ostensiva e presunçosa dos intelectuais de serviço que mudam de ideias quando convém, sem qualquer espécie de vergonha: “Todos os dias os encontros” – escreveu – “Evito-os. Às vezes sou obrigado a escuta-los” (…) “Mas também os aturo por escrito. No livro. No jornal. Romancistas, poetas, ensaístas, críticos. (…). Querem vencer, querem convencidos, convencer. Vençam lá à vontade. Sobretudo, vençam sem me chatear”.

Na criação literária de O'Neill, predomina uma poesia desenvolta onde se acentua a ironia, o sarcasmo e o humor negro; e também outra poesia de fortes tensões líricas e elegíacas. Faz a exaltação da mulher, celebra a volúpia do Amor: “defendo-me da morte quando dou/meu corpo ao seu desejo violento/e lhe devoro o corpo lentamente”. Também aprofundou as interrogações que colocam o homem perante a angústia da vida e o desespero da morte.

Buscou quer na poesia, quer na prosa, quer ainda no ofício da tradução, todos os recursos de cada palavra; desarticulava, sempre que necessário, as amarras da gramática tradicional. Procurou transmitir gestos, tiques e atitudes. Inventava novas palavras, incluía outras extraídas de alfarrábios e ainda mais outras apanhadas na rua ou no café. Este foi mais outro notável contributo da sua escrita. Deu maior amplitude à língua portuguesa.

Alexandre O'Neill faleceu com pouco mais de 60 anos. Já não era novo, mas também não era velho. Morreu destroçado por crises cardíacas e hospitalizações penosas. Ficou, a certa altura, um velhinho magro, pálido e de bengala, igual àqueles velhinhos à espera da morte nos bancos dos jardins.

Contudo, mal começava a falar, esquecíamo-nos do espectro físico em que se transformara. Logo nas primeiras palavras, emergia o seu comentário arrasador, a propósito das últimas notícias literárias e politicas, que acompanhava com à maior atenção.

Recebeu, em vida, quase todas as homenagens possíveis para um intelectual politicamente incorreto, a exceção do Prémio Camões ainda não instituído. Entre os poetas e escritores da sua geração, Alexandre O'Neill foi, porventura, o que mais se aproximou do grande público.

Recorreu à ironia e ao sarcasmo para a desmontagem de hábitos e rotinas ancestrais. Daí o paralelo inevitável entre a sua obra, a de Nicolau Tolentino e a de Cesário Verde. Nos três podemos encontrar afinidades, embora com escritas diferentes, visões diferentes e os condicionalismos de épocas diferentes. De todos, Alexandre O’Neill continua mais próximo de nós.

Embora exista outra classe social e outra classe politica, em numerosos aspetos, mantém hábitos e costumes inveterados. Revelam-se refratários à mudança. Falta-lhes ousadia para ultrapassar constrangimentos ancestrais para atingir as grandes reivindicações do cidadão da Europa.

Alexandre O’Neill Precisa-se” – por António Valdemar [Jornalista, carteira profissional número Um; sócio efetivo da Academia das Ciências], in Figueirense, 31 de Janeiro 2025, p. 18 – com sublinhados nossos; gravura de Álvaro Carrilho.

J.M.M.

terça-feira, 14 de janeiro de 2025

A INICIAÇÃO DE VOLTAIRE NA LOJA DAS NOVE IRMÃS

 


LIVRO: A Iniciação de Voltaire na Loja das Nove Irmãs;
AUTOR: A. Germain;
EDIÇÃO: BMBM | R’.’ L.’. “8 de Maio”, Janeiro de 2025, 52 p.

Trata-se da interessantíssima edição, agora em tradução portuguesa, do conhecido livreto (1874) de A. Germain, Initiation de Voltaire dans la Loge des Neuf-Soeurs. A curiosa iniciação de Voltaire, aliás François-Marie Arouet, em 1778, presidida por Jérôme Lalande (invulgar astrónomo e um dos enciclopedistas de renome) e assistida por Benjamin Franklin foi um acontecimento triunfante da história da franco-maçonaria francesa. A Loja das Nove Irmãs (1776), de que fizeram parte numerosos homens de letras, foi herdeira da “Loge des Sciences”, fundada pelo filósofo Claude Adrien de Helvétius (1715-1771) e pelo próprio Lalande (1732-1807).

Esta edição magnifica, de elevado merecimento literário e de que somente se imprimiram 100 exemplares numerados, está ornada na sua capa com uma formosa ilustração, contém uma Introdução dos editores e apresenta um estimado prefácio pelo curador adjunto no Instituto e Museu Voltaire, em Genebra, Flávio Borda D’Água.

Um pensador, um filósofo que se tornou escritor – dramaturgo, ensaísta, historiador, poeta e romancista – como forma de se comprometer consigo e compreender os outros.

Nascido no ocaso do século dezassete, ele é a personificação do homem-razão iluminista, o tolerante, o insubmisso panfletário cultor do direito e da justiça, intransigente da liberdade e anticlerical convicto. Dir-se-ia que François-Marie Arouet nasceu para ser maçon, pois sobreviveu apenas um mês à sua irradiante iniciação na querida Loja das Nove Irmãs, em Paris, sob o malhete sagrado de Lalande, em 7 de Abril de 1778.

É por isso que, 330 anos após o nascimento de Voltaire em Paris, a BMBMBiblioteca Maçónica do Baixo Mondego – decide estrear a sua bibliogenia com uma obra que, nas palavras de Hubert, pertence à Maçonaria mais do que a qualquer Loja ou maçon preferido. Mais, associa-se à RL “8 de Maio”, a Or de Coimbra, nas celebrações do seu 25º aniversário.

A INICIAÇÃO DE VOLTAIRE, hoje amável e fraternalmente prefaciada pelo conservador-adjunto do Instituto e Museu Voltaire de Genève, a quem muito agradecemos, é um duplo privilégio que queremos partilhar.

Ao Vale do Mondego, no 330º aniversário de Voltaire, Novembro de 6024.

[Os Editores]

Voltaire e a Maçonaria: uma exploração dos laços entre o pensamento do Iluminismo e o compromisso da fraternidade

Voltaire tornou-se, ao longo dos séculos, um símbolo e um farol da luz intelectual, do pensamento crítico e da afirmação das liberdades. A sua influência ultrapassa fronteiras e transcende épocas, marcando profundamente o panorama da literatura e da filosofia, o desenrolar da história e das sociedades. Por trás dessa figura emblemática do Século das Luzes esconde-se, um tanto negligenciado ainda, um legado singular da sua herança: a sua afiliação tardia à maçonaria.

A brochura que nos é oferecida hoje permite-nos aventurar nos labirintos da história para explorar os laços que Voltaire mantém com a Maçonaria: duas forças imponentes que moldaram o tecido da sociedade europeia do século XVIII e além. As páginas que se seguem servirão como uma exploração aprofundada que desmistifica essa relação, muitas vezes incompreendida e mal transmitida, e esclarecerão as áreas de sombra ao fazer o leitor descobrir, ao longo do tempo, influências mútuas entre o homem e o movimento do pensamento.

Voltaire, conhecido pela sua pena afiada e o seu espírito livre, não pode ser limitado ao papel de escritor. Homem de ideias, homem de convicções, pensador engajado nos debates da sua época, e fundamentalmente contemporâneo, ele encontra na maçonaria um quadro para nutrir e desenvolver as suas ideias. No seio da companhia fraterna, ele encontra um refúgio para o livre-pensamento, um espaço onde as fronteiras da sociedade podem ser empurradas e onde a igualdade, a fraternidade e a tolerância não são meras palavras, mas ideias a serem vividas, promovidas e desenvolvidas.

A partir daí, ao retomar os arquivos e os escritos de Voltaire, bem como os arquivos maçónicos da sua época, o investigador detecta fios invisíveis que tecem, juntos, uma história comum. As descobertas mostram como a entrada de Voltaire na maçonaria influenciou, mesmo que tardiamente, o seu pensamento, as suas acções e, por vezes, o seu estilo literário. Ele deixa, assim, uma marca indelével e misteriosa na maçonaria do seu tempo.

Ao longo desta brochura, a palavra é deixada aos textos que documentam directamente a iniciação de Voltaire e que abrem para o futuro através do fascinante aspecto da história intelectual e social. Espera-se que essa exploração suscite a curiosidade e o desejo de ir mais longe, estimulando a reflexão, incitando talvez as reconsiderações, a uma (re)descoberta de Voltaire como homem, como pensador e como irmão maçom.

Que estes documentos possam ilustrar a última evidência: que a verdadeira luz reside na busca incessante do conhecimento e da verdade, à imagem do historiador frente ao passado dos homens e da grande sociedade humana.

[PREFACIANDO - Flávio Borda D’Água, p. 9 e ss - sublinhados nossos]

 


A. Germain (1801-1882) foi um voltairiano entusiasta, fiel e ilustrado. Em tributo de admiração e reconhecimento ao Mestre, deixou escrito uma interessante notícia sobre a iniciação de Voltaire - que agora apresentamos - nesse memorável dia de 7 de Abril de 1778 e que iluminou a “serena luz maçónica” dos trabalhos da loja Des Neuf Soeurs.

A[thanase] Germain licenciou-se em direito (1821) em Paris, foi advogado da corte, diretor de assuntos argelinos do Ministério da Guerra, mestre de solicitações ao Conselho de Estado, diretor do jornal Le Progrés de l’Eure e membro da loja maçónica, La Sincerité de l’Eure, em Evreux. Foi preso por delito de imprensa em 24 de Fevereiro de 1871. Entre as suas obras impressas, está a curiosa Martyrologe de la presse (1789-1861) e a vigorosa e polémica Réponse à une lettre de M. L. Morin, curé de La Couture-Boussey (1866).

A. Germain integrou o quadro fundador da loja de Evreux (22 de Julho de 1872), La Sincerité de l’Eure, tendo sido seu Venerável entre os anos de 1873 a 1876. A loja, a segunda instalada em Evreux, no final do século entra em “dormência” e só seria de novo erguida em 1925, curiosamente com o título distintivo: Tolérance et Sincerité. A 8 de Julho de 1875, teve Germain ocasião de pedir a palavra na cerimónia solene de iniciação de Émile Littré, na loja La Clémente Amitié, fazendo-lhe oferta do seu livro Initiation de Voltaire dans la Loge des Neuf-Soeurs.

[Da contracapa]

J.M.M.

terça-feira, 31 de dezembro de 2024

HISTORIOGRAFIA CONTEMPORÂNEA PORTUGUESA DE 2024 – A NOSSA ESCOLHA



HISTORIOGRAFIA CONTEMPORÂNEA PORTUGUESA DE 2024

1. Dicionário de Imprensa Periódica do Antigo Regime em Portugal Volume I (1704-1807) Daniel Pires (Theya Editores), 548 p.

2. Os Exilados de SalazarHeloísa Paulo (Âncora Editora), 386 p. | Do 25 de Abril de 1974 ao 25 de Novembro de 1975. Episódios menos Conhecidos Irene Flunser Pimentel (Temas e Debates), 472 p.  

3. Vigias da Inquisição Luís Reis Torgal (Temas e Debates), 376 p. | Pátria e Liberdade – Uma Loja maçónica de Militares (1911-1918) António Ventura (Âncora Editora), 179 p.

4. Ecos de Londres. O Investigador Português em Inglaterra, Jornal Literário, Político, & C., nos primeiros anos de publicação (1811-1813)Adelaide Maria Muralha Vieira Machado (Lema d`Origem), 134 p. | Abade Correia da Serra, Cidadão do Mundo António Rebelo de Sousa e Jorge Rio Cardoso (Editora Guerra & Paz), 112 p.  

5. A Caminho do 25 de Abril. Uma organização clandestina de oficiais da ArmadaLuísa Tiago de Oliveira (Edições 70), 284 p. | Tarrafal. Presos políticos e sociais (1936-1954 e 1961-1974) Alfredo Caldeira e João Esteves (Edições Colibri), 444 p.

6. Da República dos Portugueses. Crónica geral da política José Adelino Maltez (Âncora Editora), 962 p. | O Século do Liberalismo. Portugal 1820-1926 - Miriam Halpern Pereira (FCG), 866 p. | Portugal e Inglaterra - O Liberalismo e o Império. Estudos sobre a aliança luso-britânica no século XIX José Miguel Sardica (Tribuna da História), 204 p.

7. Ressuscitar Lázaro. O ideal republicano de Ezequiel de Campos (1910-1919)Teresa Nunes (Âncora Editora), 390 p. | A noite mais sangrentaJoão Miguel Almeida (Manuscrito Editora), 176 p. | As Eleições Legislativas no Alentejo Durante a I República (1910-1926)Manuel BaiôaPedro Figueiredo Leal e António José Queiroz (Edições Humus), 288 p.

8. Padre Felicidade. Ooposicionista praticanteAna R. Gomes (Tinta da China), 240 p. | Do Luso-Hebreu Isaac Abravanel a Boris Pasternak. O Vínculo Familiar - João Augusto David de Morais (Edições Colibri), 184 p. | Urbino de Freitas. As manobras de bastidores - José Manuel Martins Ferreira (Edições Humus), 312 p.

9. Jornal A Batalha 1974-2024 - Esboço para uma Análise mais Distanciada – João Freire (A Batalha), 124 p. | Na Teia da Aranha - João Lázaro Cavaleiro Diz de Carvalho (Afrontamento), 332 p. | O Algarve em Transe. Os loucos anos 60 e 70 em Portimão - Maria João Raminhos Duarte (Edições Colibri), 518 p. 

10. O Sonho de D'Alembert e Demais Conjeturas. Diálogos entre Lucrécio e Posidómio - Denis Diderot e Voltaire (Edições Humus), 220 p. | Tradução e Tradutores em Portugal. Um contributo paraa sua história (séculos XVIII -XX) - Teresa Seruya (Tinta da China), 496 p.  

A.A.B.M.
J.M.M.